quinta-feira, 6 de maio de 2010

Entrevista para O Estado RJ

Semana passada, muito orgulhosamente, recebi do repórter Rodrigo Pereira, do jornal O Estado RJ, um convite para uma entrevista sobre Photoshop. Entrevista essa que seria publicada em uma matéria sobre os 20 anos do software e a evolução do programa nesses últimos anos.

Enquanto não sai a terceira e, espero eu, última parte do tutorial sobre super poderes, deixo para vocês aqui, a íntegra dessa entrvista:

Rodrigo - Desde quando você trabalha com o photoshop? E daquela época pra cá, quais você considera as mudanças mais significativas dentro das evoluções do programa?

Leo - Bom, se não me falha a memória, em meados de 2000/2001 eu tinha um fotolog (um desses sites onde postava fotos diariamente e recebia comentários dos visitantes) onde eu usava o software Microsoft Paint para tirar sarro dos meus amigos de colégio com montagens realizadas com o rosto de um no corpo de outro, e todos adoravam as "piadas". Na época meu pai comprara uma dessas revistas que vendem em bancas de jornais com várias versões de teste (trial) de vários programas, e um desses programas era o Adobe Photoshop 5.5. Comecei a "fuçar" o programa e acabei pegando gosto. Com as ferramentas do programa, muito superiores às do Microsoft Paint, e cada nova técnica que ia aprendendo, as montagens iam melhorando e ficando cada vez mais realistas, dessa maneira eu podia ousar cada vez mais nas manipulações que fazia. De lá pra cá acompanhei todas as novas versões do Photoshop que iam sendo lançadas no mercado (6.0, 7.0, CS, CS2, CS3 e CS4) e estudava cada nova ferramenta que era disponibilizada. Em geral posso dizer que a evolução do programa visou a facilitação e automatização dos recursos. Praticamente tudo o que fazemos hoje com a recém lançada versão CS5 podíamos fazer na versão 5.5, porém hoje o trabalho manual foi substituído (em partes) por algorítmos matemáticos avançados que identificam padrões na imagem. Por exemplo, na versão CS5 se você precisasse remover um elemento qualquer de uma imagem, poderia fazer isso utilizando a ferramenta "clone stamp" e, manualmente, ir copiando áreas semelhantes da imagem sobre esse elemento até que ele fosse completamente removido. Hoje, com a função "content aware-fill", basta uma rápida seleção em volta desse elemento indesejado que o programa automaticamente identifica padrões (as tais "areas semelhantes" citadas) na imagem e copia esses padrões sobre a area do objeto.


Rodrigo - Acredito que como profissional que lida diariamente com edição de imagens você se tornou um tanto quanto cético em relação à "verdade" presente numa fotografia, por exemplo. Você acredita que possa conseguir identificar imagens que foram manipuladas ou isso se tornou impossível na atualidade?

Leo - Essa é uma pergunta interessante e eu sempre penso a respeito disso. Com certeza, conhecer as possibilidades disponíveis para manipulação de uma imagem torna qualquer um mais cético e cientificamente empírico ao avaliar uma foto. Esse trabalho de detetive virtual funciona exatamente como qualquer outro ramo de investigação. Para identificar se uma foto é montagem ou não, nós procuramos por erros de coerência, ou seja, falhas de atenção do criador da imagem. Talvez uma sombra mal projetada, uma invasão de cor ilógica, um erro de perspectiva ou posicionamento... Essas são as nossas "evidências do crime". Mas da mesma maneira que há crimes perfeitos, ou seja, aqueles que não deixam vestígios, há manipulações muito bem feitas. Sempre que encontro um defeito em uma manipulação eu penso "Eu não teria cometido esse erro", e é exatamente nesse ponto que penso "-E quando eu encontrar alguém tão meticuloso quanto eu? Como vou identificar?". O que torna mais difícil o reconhecimento de uma manipulação fotográfica é a necessidade de um conhecimento que vai além do que os programas de edição de imagem nos proporciona. As vezes é mais importante entender das reações improváveis que a lente da câmera pode sofrer por interferência de fatores naturais como clima, iluminação e movimento do que apenas entender de métodos para reproduzir o mesmo efeito de maneira digital. Isso é, algumas incoerências que nos passam uma sensação óbvia de manipulação digital podem ser causadas por uma fonte de calor próxima da lente, por uma iluminação incomum no ambiente ou pela impotência do estabilizador de imagem de uma câmera sobre uma foto em movimento. Sendo assim, na maioria das vezes consigo identificar uma manipulação de uma fotografia legítima sem edição, em outras poucas vezes apenas posso identificar possíveis incoerências mas precisaria estudar outros fatores que estariam além do que apenas a imagem poderia me oferecer para afirmar com convicção que se trata ou não de uma farsa.


Rodrigo - Uma das funções mais admiradas na versão CS5 do photoshop, lançada esse mês, é a que completa imagens automaticamente (ao recortar um elemento de uma foto ela busca "adivinhar" o que estaria ao fundo dela, completando-a). A manipulação/alteração de imagens tem se tornado cada vez mais simples. Quais os "limites éticos" que você acredita que um designer deve se preocupar em não ultrapassar?

Leo - Sempre que falamos de "ética" precisamos analisar a relatividade que essa palavra representa. Estamos falando de questões relativas à cultura, costumes e valores morais de um certo âmbito social. O que é ético em um lugar pode não ser em outro. É fato que, com a inclusão digital, alguns métodos propagandísticos que podem ser considerados anti-éticos, como videos virais e imagens surrealistas, têm assumido uma posição atrativa para muitas empresas. Hoje, na publicidade, trabalhamos em cima de um padrão de beleza totalmente surreal, "elevamos" a beleza a um nível inatingível naturalmente. A pele é sempre impecável, cintura fina e pernas incrivelmente torneadas. Podemos considerar que esse padrão é anti-ético se interpretarmos como propaganda enganosa, mas a idéia é atrair a admiração para algo esteticamente agradável, não precisamos que o consumidor realmente acredite que aquela modelo é daquele jeito naturalmente. Acredito que quando trabalhamos com criatividade, qualquer tipo de "limite" ou "pudor" é nosso inimigo, até porque, em publicidade, muitas vezes, a polêmica é um aliado interessante.


Rodrigo - Dos trabalhos profissionais que você realizou, qual deles você acredita que tenha sido uma das maiores audácias (no sentido positivo da palavra) no uso do photoshop? Do que se tratava?

Leo - Eu trabalho em um estúdio fotográfico com o grande fotógrafo e primo Flavio Saturnino, e nessa parceria sempre tentamos explorar a ousadia como ponto chave de uma publicidade inovadora e impactante. Em questão de dificuldade técnica de uma manipulação, posso dizer que nenhuma das minhas maiores façanhas seja interessante aos olhos de um leigo, uma vez que normalmente a dificuldade está focada no ajuste de cores e iluminação e não exacerba a complexidade do tratamento, mas lembro de um pedido que me fora feito em 2005 para desenvolver um anúncio interno de "proibido fumar" para uma boate conhecida no Rio de Janeiro. O cliente queria algo agressivo, chamativo e impactante que diferisse das costumeiras plaquinhas. Elaborei um backlight com uma arte onde a fumaça de um cigarro formara a ossada de um crânio humano e onde os dizeres "Eu não fumo, não me obrigue!" fazera menção ao fumo passivo. A arte foi encomendada por outras três casas noturnas. Hoje você pode encontrar o video tutorial da base dessa imagem no meu blog e (autorizado) em outros 3 sites destinados à TI pela internet.



Para quem quiser conferir a matéria no jornal online, acesse:
http://www.oestadorj.com.br/?pg=noticia&id=4801

Obrigado Rodrigo Pereira,
obrigado jornal O Estado RJ...
e obrigado a todos vocês que acompanham meu blog e deixam incentivos por aqui, por email e pelo orkut!